Adriana Strella: A Libertação Que a Escrita me Trouxe!


Quando criança, eu não entendia porque todos os dias de manhã minha mãe chorava sentada no degrau da cozinha que dava acesso ao quintal. 

Eu não entendia o motivo do choro, estava tudo bem, nem meu pai estava em casa para brigar com ela.  

Minha Mãe tinha o hábito de arrumar a casa cantando, ela colocava um disco na radiola e depois cantava acompanhando a música, depois ela parava de cantar e sentava para chorar, ela não me via por que eu ficava no cantinho da porta a observando naquela tristeza sem fim. 

Eu costumava ouvir as conversas que minha mãe tinha com as amigas quando iam em nossa casa, elas conversavam perto de mim. 

Na maioria das vezes elas iam desabafar as insatisfações com a vida que tinham, eu via todas infelizes, cada uma delas queria fazer alguma coisa e não fazia. 

Mesmo não entendendo nada da vida, eu ficava me perguntando:

“Porque elas não faziam o que gostariam de fazer, e porque não viviam como gostariam de viver?"

Mas havia outra coisa que me deixava encabulada, elas falavam de uma tal sociedade e diziam coisas do tipo;

“A sociedade condena mulher separada, a sociedade condena mulher que trabalha fora, mulher tem que viver para o lar” 

A outra dizia que se fizesse isso e aquilo a sociedade iria falar, iria achar feio. E eu cá com os meus pensamentos ficava preocupada, me perguntando o que era sociedade, se era uma lei ou uma pessoa.

Quando eu fui perguntar para a minha mãe. o que era sociedade, ela brigou comigo falando que não era assunto para mim e que eu não entendia nada da vida, mas aquela questão me preocupava. 

Então, como eu não tinha com quem falar sobre o que eu não entendia, enquanto aquilo fervilhava em minha cabeça  eu comecei a escrever com doze anos de idade e nunca mais parei. 

Eu escrevia, todos os meus questionamentos, tudo que eu não entendia e as respostas surgiam. 

Eu já havia decidido que quando eu crescesse, da minha vida quem iria cuidar era eu, a sociedade, fosse quem fosse, não iria me proibir de fazer o que eu desejasse. 

Eu não queria viver reclamando como aquelas mulheres e nem viver chorando como a minha mãe, e também  não queria passar a vida falando que a sociedade não me deixou fazer alguma coisa, mas primeiro eu precisava saber o que era sociedade.  

A medida que escrevia sobre a vida e o comportamento das pessoas, as coisas iam ficando claras para mim, e assim cheguei a conclusão de que sociedade é gente que fala da gente, é povo que julga.  

E quem não faz algo por medo de julgamento, tem medo da sociedade.  

Ainda na adolescência criei uma frase que é o meu lema: Eu quero viver, e ninguém pode andar com as minhas pernas ou viver a minha vida!

1 Comentários

  1. Eis que a menina que observava a conversa das amigas tinha apenas seus cadernos como confidentes... e como era observadora aquela criança...
    Hoje é a mulher dos livros, observadora de consciências e amiga de muitas mulheres, confidente ajudadora das que temem a sociedade.

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