Queda dos alimentos pode ajudar a deixar IPCA abaixo de 4,75% em 2023, aponta economista André Braz
Ainda há espaço para a inflação brasileira encerrar o ano de 2023 abaixo do limite máximo da meta. No entanto, o aumento nos preços dos combustíveis e suas repercussões na economia representam uma fonte significativa de incerteza em relação ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Essa análise é atribuída ao economista André Braz, vinculado ao Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). O pesquisador acredita que, apesar do recente aumento nos preços do petróleo, a queda nos preços dos alimentos poderá compensar o impacto potencial de aumentos nos preços dos combustíveis no Brasil.
O IPCA, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é utilizado como referência para a meta de inflação estabelecida pelo Banco Central (BC). Para o ano de 2023, o centro da meta é de 3,25%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima (4,75%) ou para baixo (1,75%). Portanto, a meta será considerada cumprida se o IPCA se mantiver dentro desse intervalo até o final de dezembro.
André Braz compartilhou essas opiniões durante sua participação na divulgação dos novos dados do Índice de Preços dos Gastos Familiares (IPGF) nesta terça-feira (19). Na quarta-feira (20), o Comitê de Política Monetária (Copom) anunciará a taxa básica de juros, que é um instrumento utilizado para controlar a inflação.
Braz destacou que ainda existe margem para que o IPCA permaneça dentro da faixa de tolerância da meta, ou seja, até 4,75%, mesmo que a Petrobras anuncie novos reajustes nos preços dos combustíveis. Ele enfatizou que a queda nos preços dos alimentos está compensando outras pressões inflacionárias.
No entanto, as projeções medianas dos analistas do mercado financeiro apontam para um IPCA de 4,86% em 2023, conforme o boletim Focus mais recente, divulgado pelo BC na segunda-feira (18). Embora essa estimativa esteja acima do limite máximo da meta, ela representa uma diminuição em comparação com o relatório anterior, que indicava 4,93%.
Braz também observou que o recente aumento nos preços do petróleo nos mercados internacionais pode levar a ajustes nos preços da gasolina e do óleo diesel no Brasil. Segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), a gasolina vendida pela Petrobras nos polos apresenta uma defasagem de 9% em relação aos preços internacionais.
A Petrobras afirmou que não faz previsões antecipadas sobre seus preços e que quaisquer ajustes são realizados de acordo com a análise técnica independente em conformidade com suas operações regulares.
Por outro lado, os preços dos alimentos estão em queda no Brasil devido a uma safra maior e a uma redução de custos de produção em certos segmentos. O índice de alimentação no domicílio mostrou uma queda de 0,62% nos últimos 12 meses até agosto, de acordo com o IPCA, marcando a primeira deflação nesse setor desde maio de 2018.
No entanto, André Braz alerta que fenômenos climáticos, como o El Niño, podem representar riscos para os preços nos próximos meses. A extensão dos impactos ainda não está clara, conforme o economista.
O El Niño é caracterizado pelo aquecimento anormal do Oceano Pacífico na região da linha do Equador, levando a um aumento das temperaturas globais. Nos Estados Unidos, cientistas declararam o início desse fenômeno em junho. No Brasil, o El Niño aumenta a probabilidade de chuvas intensas no Sul e eleva o risco de períodos de seca no Nordeste e no Norte, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
O IPGF, elaborado pelo FGV Ibre, utiliza uma cesta de bens e serviços cujos pesos são atualizados mensalmente de acordo com as mudanças nos padrões de consumo das famílias. O objetivo é captar de forma mais ágil o impacto das substituições de itens nos preços.
Em agosto, o IPGF registrou um aumento de 0,03%, abaixo do índice oficial do IBGE, que foi de 0,23%. No acumulado de 12 meses, o indicador do FGV Ibre teve um aumento de 2,78%, também menor do que o IPCA, que aumentou 4,61%.
Os responsáveis pelo IPGF esperam que o acumulado se aproxime mais do centro da meta de inflação para este ano (3,25%), em comparação com o indicador do IBGE.
Fonte: Folha