CHARLES DICKENS E SUA INFLUÊNCIA NA MODERNIDADE LONDRINA, por Drª Sueli Lopes





Dentre meus lugares favoritos a visitar, onde eu estiver, quando viajo, ou vivo em outro país, estão aqueles por onde escritores passaram. Ou apenas citados em suas obras. No Reino Unido, os rastros de Charles Dickens sempre me fascinaram. Já estive em Portsmouth, local de seu nascimento e em vários locais que fazem parte de sua história.  

    Londres, uma cidade que transcende o tempo e a história, sempre teve um lugar especial na literatura. Quando olhamos para a vida moderna londrina e a comparamos com os clássicos de Charles Dickens, encontramos uma divergência fascinante entre o passado e o presente. 

    Nos tempos de Dickens, Londres era uma cidade de contrastes sociais acentuados. O autor pintou uma imagem vívida de uma cidade onde a pobreza e a riqueza coexistiam lado a lado. Personagens como Oliver Twist, Tiny Tim e Scrooge são ícones desse período vitoriano, onde as condições de vida eram precárias para muitos, enquanto uma elite prosperava. 

    No entanto, a Londres moderna é uma cidade que mudou significativamente. As reformas sociais do século XX e as mudanças econômicas transformaram a cidade em uma metrópole global, com uma economia diversificada e uma abordagem mais equitativa aos serviços sociais. A pobreza ainda existe, mas não de forma tão desenfreada quanto nos tempos de Dickens. 

    A tecnologia também desempenhou um papel fundamental na transformação de Londres. Enquanto Dickens descreveu as ruas escuras e sujas da cidade, a Londres moderna brilha com luzes de neon, arranha-céus reluzentes e uma rede de transporte público eficiente. As pessoas podem acessar informações instantaneamente em seus smartphones e se conectar com o mundo em questão de segundos, algo que Dickens nem poderia imaginar, embora tenha desempenhado muito bem o papel de jornalista também. 

    Apesar das mudanças, ainda podemos encontrar traços do mundo de Dickens na capital inglesa de hoje. A desigualdade persiste, com bairros de alta renda contrastando com áreas carentes. As ruas antigas e os prédios históricos convivem com a arquitetura moderna, criando uma rica tapeçaria urbana que conta a história da cidade. 

    Além disso, o espírito de Dickens está presente na compaixão e no ativismo social que caracterizam muitos londrinos. As organizações de caridade, a ajuda aos animais, os abrigos para sem-teto e os esforços para combater a pobreza ainda são uma parte vital da vida na cidade. 

    Portanto, ao comparar a vida moderna londrina com os clássicos de Charles Dickens, vemos uma Londres que evoluiu, mas que ainda carrega vestígios do passado. A cidade continua a ser um lugar de complexidade, contrastes e histórias humanas, mas agora em um contexto mais conectado e tecnológico. Charles Dickens pode ter desaparecido há muito tempo, mas sua influência perdura, lembrando-nos de que a compaixão e a justiça social são valores atemporais que sempre encontrarão seu lugar nas ruas de Londres e em nosso coração. 

    Em uma Londres moderna, os ecos do passado se mesclam com a agitação contemporânea, como se as ruas estreitas e os parques majestosos carregassem consigo memórias de tempos idos. O espírito vibrante da metrópole, com seus arranha-céus reluzentes e sua atmosfera cosmopolita, contrasta vivamente com os contos imortalizados nas obras de Charles Dickens, mas a essência humana persiste, conectando o antigo e o novo em uma trama fascinante. Em cada esquina, sempre nos deparamos com uma renomada “charity shop”, lojas onde toda a mercadoria foi doada e a renda é destinada a uma determinada organização ou obra de caridade. 

    Enquanto nos tempos de Dickens, a Londres vitoriana era palco de personagens como Oliver Twist, Pip e Ebenezer Scrooge, que refletiam a dura realidade das classes desfavorecidas, nos dias atuais, os habitantes desta metrópole global enfrentam desafios distintos, mas igualmente marcantes. A desigualdade social persiste, porém sob novas roupagens, com questões como o custo de vida exorbitante, a disparidade de oportunidades e a solidão em meio à multidão. 

    Os trilhos do metrô, que antes viam desfilar as figuras sombrias dos romances de Dickens, hoje testemunham a pressa e a correria dos londrinos modernos, imersos em seus smartphones e laptops. As praças antes ocupadas por artesãos e vendedores ambulantes agora se transformaram em espaços onde a cultura pop se manifesta em forma de música, performances e manifestações artísticas diversas. Os arranha céu de Liberpool fazem sombra na descolada Brick Lane, que conquistou os turistas. 

    Alguns resquícios do encanto dickensiano permanecem. Os becos estreitos e os edifícios históricos, embora rodeados por construções contemporâneas, mantêm viva a atmosfera de mistério e nostalgia. Em meio aos restaurantes modernos e cafés sofisticados, há pubs centenários onde é possível apreciar um vislumbre da atmosfera descrita nos livros de Dickens, como o The Spanirds Inn, em Hampstead Heath, por exemplo, onde Dickens escrevia. São locais onde pessoas se reúnem para trocar histórias, experiências e apreciar a literatura. 

    A riqueza de detalhes presentes nas obras do autor ainda ecoa pelas ruas londrinas, mesmo que os cenários tenham se transformado. O espírito de solidariedade, a luta contra as injustiças e a resiliência diante das adversidades continuam a permear a essência da cidade, inspirando ações e movimentos em prol de uma sociedade mais justa e humana. 

    Assim, Londres, com sua fusão de passado e presente, reflete um retrato que mescla a Londres de Charles Dickens com a contemporaneidade, onde a vida moderna pulsa, mas a essência dos dilemas e anseios humanos permanece atemporal, unindo gerações e épocas em uma teia indissociável de experiências e histórias. 

 

    E o museu Charles Dickens, onde ele viveu, em Bloomsbury, permancece aberto e recebe visitas de diversas partes do mundo. Ali, um café charmoso, nos jardins do fundo da casa, onde eu, que aprecio essa bebida, o turismo literário e o escritor inglês que ainda tem muito a nos ensinar, escrevi este artigo. O café, claro, acompanhado do tradicional scone com geleia de morangos. 

 

Sueli Lopes é autora, escritora, professora, colunista internacional. É pós-graduada em Literatura e Drª h. c. em Literatura pela FEBACLA (FedersaçãoBrasilira das ciências, Letras e Artes), onde também é Chanceler da Paz e benemérita acadêmica; de igual modo, na AILB (Academina Internacional de Literatura Brasileira). 









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