As fronteiras diplomáticas, aquelas linhas traçadas sobre os mapas para delimitar nações e territórios, são como costuras invisíveis que unem ou separam as histórias de povos. Elas moldam as relações internacionais e, muitas vezes, determinam a trajetória de nações inteiras. No entanto, por trás dessas linhas frias e oficiais, encontra-se a poderosa influência da literatura, que atua como a narradora silenciosa de nossa história comum, registrando as vidas e as experiências que transcendem fronteiras geográficas.
As fronteiras diplomáticas são frequentemente associadas à política e aos tratados, mas é importante compreender que, sob a rigidez dessas linhas, há seres humanos com histórias, sonhos e lutas. A literatura, como a linguagem da alma, e também com sua função social, tem o poder de atravessar essas fronteiras e unir pessoas de diferentes nacionalidades e culturas. Através das palavras de autores, poetas e escritores, somos convidados a adentrar em mundos desconhecidos, a conhecer experiências que ecoam através do tempo e do espaço.
Autores como Gabriel García Márquez, que nos transporta para as selvas da Colômbia em Cem Anos de Solidão, ou Naguib Mahfouz, que nos guia pelas vielas do Cairo em Trilogia do Cairo, desafiam as barreiras geográficas e culturais, permitindo-nos mergulhar em suas realidades. Ao fazê-lo, expandem nossos horizontes, enriquecem nossa compreensão do mundo e nos fazem questionar a natureza das fronteiras que nos dividem.
A literatura é também um instrumento de registro da História. Por meio de narrativas ficcionais ou autobiográficas, escritores capturam momentos de significado e impacto, preservando-os para as gerações futuras. O holocausto, por exemplo, é documentado em obras como O Diário de Anne Frank e Noite, de Elie Wiesel, que iluminam o sofrimento humano e o horror do genocídio nazista. Através de suas palavras, estas testemunhas da História transcendem as fronteiras do tempo e do espaço, garantindo que jamais nos esqueçamos do passado.
A literatura também tem o poder de promover a compreensão e a empatia entre povos. No contexto das fronteiras diplomáticas, onde os interesses políticos frequentemente se sobrepõem à humanidade, a literatura atua como uma voz que une corações e mentes. Romances como O Caçador de Pipas, de Khaled Hosseini, ou O Apanhador no Campo de Centeio, de J.D. Salinger, abordam questões universais de
amor, perda e busca de significado, transcendendo barreiras nacionais e culturais.
À medida que a História avança, as fronteiras diplomáticas podem se tornar mais rígidas ou flexíveis, dependendo das circunstâncias políticas. No entanto, a literatura permanece como uma constante, oferecendo-nos um vislumbre do que significa ser humano em diferentes partes do mundo. Ela nos convida a olhar além das fronteiras que nos separam e a reconhecer nossa humanidade compartilhada.
Em um mundo onde a diplomacia é frequentemente desafiada por divisões políticas e culturais, a literatura se destaca como uma força unificadora, uma ferramenta para construir pontes entre nações e indivíduos. Ela nos recorda que, independentemente de onde nascemos ou das fronteiras que nos cercam, somos todos personagens da mesma narrativa global, em busca de entendimento, conexão e um lugar para chamar de lar.
Talvez não seja um exagero dizer que há algo mágico nas fronteiras que separam nações, algo mais do que linhas no mapa. São elas que, muitas vezes, definem as políticas, moldam os relacionamentos e delineiam as identidades de cada região. No entanto, além da rigidez geopolítica, as fronteiras são permeáveis a uma linguagem universal: a literatura.
A diplomacia, moldada pela interação entre nações, é a essência da construção e manutenção de pontes entre fronteiras. Trata-se de um delicado balé de acordos, negociações e diálogos entre países, no intuito de estabelecer relações harmoniosas e produtivas. As fronteiras diplomáticas, em sua rigidez e flexibilidade, carregam consigo o peso das políticas, mas também a promessa de cooperação e entendimento.
A literatura, por sua vez, é a alma da História. Ela tece os fios do tempo, registrando as dores, alegrias, lutas e triunfos da humanidade. É a expressão mais pura da essência humana, transcendendo fronteiras e idiomas. Autores, como embaixadores da palavra, cruzam fronteiras imaginárias, alcançando corações e mentes além de qualquer barreira geográfica.
Nos livros, encontramos as crônicas da diplomacia narradas por estadistas e líderes, mas também pelas vozes dos oprimidos, dos refugiados, dos esquecidos. A literatura traz à tona as nuances das relações entre nações, permitindo-nos vislumbrar não apenas as políticas, mas também as histórias individuais por trás das fronteiras. Ela nos convida a olhar para além do que está escrito nos tratados e discursos oficiais, revelando as realidades cotidianas e as emoções subjacentes.
Através das páginas de livros, viajamos para terras distantes, conhecemos culturas diversas e nos conectamos com os anseios e dores de pessoas que vivem do outro lado das fronteiras geopolíticas. É por meio da literatura que a História se torna viva, registrando as marcas do tempo e as transformações culturais, políticas e sociais que transcendem as fronteiras.
No entanto, a literatura não apenas registra a História, mas também desafia as fronteiras impostas, quebrando os estereótipos e preconceitos que muitas vezes dividem nações. Ela nos lembra da nossa humanidade comum, independentemente das fronteiras geográficas que nos separam. Através das palavras dos escritores, somos convidados a cruzar limites, a transcender as barreiras e a compreender o outro, mesmo além das fronteiras físicas estabelecidas.
Portanto, a literatura e a diplomacia se entrelaçam, complementando-se, revelando a beleza da diversidade e a necessidade da compreensão mútua. Enquanto a diplomacia estabelece as bases para a cooperação entre nações, a literatura preenche os vazios, conectando corações e mentes, transcendentando os limites geográficos para abraçar a complexidade e a riqueza de nossa humanidade compartilhada.
Sueli Lopes é Drª h. c. Em Literatura, pós-graduada em Literatura pela Universidade de Salamanca, Esp., graduada em Letras , professora de língua portuguesa e linguística.
É autora, escritora, antologista, colunista internacional e CEO do Grupo Internacional de Escritores Vozes da Diáspora (Londres). É Chanceler da Embaixada Cultural da Paz da FEBACLA, onde também é Comendadora e Acadêmica Internacional, título este que de igual modo obteve da AILB (Academia Internacional de Literatura Brasileira), em Nova Iorque. Sueli faz leitura crítica, curadoria literária, mentoria e projeto editorial, tendo concretizado o sonho de diversos escritores ao redor do mundo
Instagram: @escritorasuelilopes