MPRJ apura discurso de prefeito de Barra do Piraí que sugeriu castração de meninas

 


Mário Esteves, que foi expulso do partido Solidariedade neste domingo (17), pode responder por improbidade administrativa

Rio - O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) instaurou, nesta segunda-feira (18), uma notícia de fato para apurar excessos cometidos pelo prefeito de Barra do Piraí, Mário Esteves, em seu discurso, que defendeu a castração das mulheres da cidade, localizada no Sul do estado, devido à quantidade de crianças. Ele pode responder pelo crime de improbidade administrativa.

"O que não falta em Barra do Piraí é criança. Cadê o Dione (Secretário Municipal de Saúde)? Tem que começar a castrar essas meninas. Controlar essa população. É muito filho, cara", disse o prefeito, que ainda sugeriu a aprovação de uma lei que limite a dois a quantidade de filhos por mulher. "No máximo dois. Tem que fazer uma lei lá na Câmara. Haja creche pra ser construída nos próximos anos.

 Tem que ter um projeto federal, estadual e municipal, porque precisa sim desse controle. É muita responsabilidade colocar filho no mundo", discursou o prefeito durante um evento na quinta-feira passada (14). Ele ainda foi aplaudido.

O MPRJ estabeleceu o prazo de dez dias úteis para que o prefeito preste esclarecimentos sobre o teor de seu discurso. Segundo o órgão, deverão ser comprovadas documentalmente quais medidas de controle populacional foram efetivamente implantadas durante o governo de Esteves, especialmente a quantidade de cirurgias de laqueadura e vasectomia, os critérios para aprovação de tais cirurgias, bem como a distribuição de preservativos e outros métodos contraceptivos na rede municipal de saúde.

Após a repercussão negativa, o prefeito admitiu ter errado os termos. "Reconheço o equívoco na troca do termo técnico – 'laqueadura' por 'castrar'. No entanto, isso não diminui a importância do assunto. O que deveria entrar em pauta era o planejamento familiar. Esse é o assunto que tem que estar nas manchetes – e não a troca de um termo técnico. Infelizmente, hoje, qualquer palavra mal colocada pode se transformar em barbárie nas mãos de pessoas mal intencionadas", explicou.

Expulsão do partido
Neste domingo (17), a direção estadual do Solidariedade decidiu, por unanimidade, expulsar o prefeito do partido devido ao seu discurso. No comunicado, assinado pelo presidente estadual do Solidariedade, o deputado federal Aureo Ribeiro, o partido considerou a fala de Esteves como misógina e um "total desrespeito às mulheres".

"O Solidariedade esclarece que diante da gravidade das palavras proferidas pelo prefeito Mário Esteves, de Barra do Piraí (RJ), a direção estadual do Solidariedade (RJ) decidiu pela sua imediata expulsão de seu quadro partidário. Nosso partido tem em seus valores basilares a defesa dos direitos das mulheres, a promoção da equidade de gênero e a luta incessante contra qualquer forma de discriminação. Seguiremos firmes em nosso compromisso de construir políticas públicas inclusivas e de conscientizar a sociedade sobre a importância de respeitar e valorizar as mulheres em todas as instâncias de poder", diz a postagem.



 Autoridades, órgãos e entidades também comentaram a fala do prefeito. A vereadora da cidade, Kátia Miki (Cidadania), disse que o discurso foi desrespeitoso com as mulheres e reforça o machismo e o preconceito com os mais pobres.

"Tamanho é o desrespeito e a falta de empatia às mulheres, que o prefeito se refere a nós como se fôssemos "bichos" sujeitas ao controle da prole, ignorando o fato de que as mulheres não geram os filhos sozinhas. Em uma só fala, quebra o decoro a que o cargo de chefe máximo do executivo municipal deve se submeter; demonstra toda a sua misoginia e machismo; reforça seu preconceito sobretudo com as mulheres mais pobres - que são aquelas para as quais efetivamente direciona a fala, aquelas às quais seus filhos darão despesas futuras para o governo com a construção de creches", disse.

Questionados sobre a apuração do MPRJ, o prefeito e a prefeitura de Barra do Piraí ainda não responderam. O espaço está aberto para manifestação.

Fonte: O Dia online

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