CHARLES DICKENS: UM CHAMADO DE VOLTA À VIDA!


Por Sueli Lopes


Em 08 de fevereiro de 1812
 nascia Charles Dickens, aquele que continua a ser um dos autores ingleses mais lidos e influenciadores de todos os tempos.  Pelo menos cerca de 180 filmes e adaptações para televisão das suas obras são apresentadas ao  público atual. Na verdade, ainda em vida, Dickens viu algumas delas, para o palco. Em 1913 já os produtores cinematográficos se lançavam na produção de um filme mudo denominado The Pickwick Papers, com personagens tão  sugestivas que pareciam ganhar vida própria, tornando-se uma espécie de provérbios. Aliás, vale ressaltar, a língua inglesa ganhou alguns neologismos devido a essa obra. "Gamp", por exemplo, é um termo usado na gíria para "guarda-chuva", devido a uma personagem — a senhora Gamp.

 

O seu conto "Canção de Natal" é uma de suas histórias mais conhecidas, contando com inúmeras adaptações para quase todos os géneros de comunicação: cinema, banda desenhada, televisão, teatro, outras adaptações literárias, etc.

 

Num tempo em que o Império Britânico era a maior potência política e econômica do mundo, Dickens conseguiu dar vida em suas obras aos esquecidos e desfavorecidos, descrição esta que está em seu honrado jazido na Abadia de Westminster, o famoso “Poet´s Corner”. Desde sua breve carreira de jornalista, já lutou pelo saneamento básico e pelas condições de trabalho. Porém, foram as suas ficções que mais despertaram a opinião pública para tais problemas.

 

Com um texto literário bem humorado, capaz de gerar vendas em alta escala, fazia denúncias à vida agreste dos pobres e ironizava aqueles que permitiam tais abusos. Assim, ele conseguia mover opiniões. Muitos acreditam, por exemplo, que a sua influência foi importante para que fossem fechadas as prisões de Marshalsea e da Prisão de Fleet.

 

Ele também influenciou outros romancistas da era vitoriana, tais como Samuel ButlerThomas Hardy ou George Gissing. Eles, apesar de apresentarem uma escrita mais sóbria e menos melodramática, demonstram-se claramente influenciados por Dickens.

 

Charles Dickens continua, sem sombra de dúvida, a ser um dos mais geniais criadores da literatura mundial de todos os tempos, sendo dificilmente superado na popularidade e acessibilidade da sua escrita. E, Não seria nenhum exagero designar a própria era vitoriana de era dickensiana, se considerarmos como foi perenemente descrita por este escritor.

Depois da sua morte, em 1870, a literatura inglesa tornou-se muito mais realista, é bem verdade, mas ninguém pode negar o quanto ela ainda é atual, por mostrar as diferenças de classes sociais, por denunciar os problemas do capitalismo, bem como questões políticas. Eu diria, até, que a obra de Dickens pode até ser analisada como um realismo contemporâneo! Um Conto de Duas Cidades, por exemplo, embora trate de um conflito histórico bem mais antigo, faz um paralelo bem próximo aos dias de hoje. Embora seja considerado um livro de leitura difícil, por tratar de temas tão áridos e pesados, é um dos textos literários mais bonitos, bem escritos que eu já li em toda a minha vida.

 

“Aquele foi o melhor dos tempos, o pior dos tempos, foi a era da sabedoria, da loucura, foi a época da crença, da incredulidade, a era da luz, das trevas, a primavera da esperança, o inverno do desespero, tínhamos tudo bem diante dos nossos olhos, não tínhamos nada diante dos nossos olhos, iríamos todos para o paraíso, todos na direção contrária...” (trecho do primeiro parágro do livro, DICKENS, Ed. Principis, 2019, P. 6)

 

Com essa frase inicial, Charles Dickens antecipa a marca de profundo contraste em seu romance histórico Um Conto de Duas Cidades. Obra na qual percebemos o confronto entre os retratos das sociedades inglesa e francesa, na contraposição entre a miséria da urbana Paris e o aristocrata do interior da França. E na representação da tirania dos nobres do antigo regime e da opressão popular que caracteriza a época do Terror Jacobino. Ele descreve, sem sutileza, massacres, guilohotinas, miséria, conflitos.

 

E, no meio de tantos problemas, a obra traz dois conceitos: o do sacrifício pela revolução (porém, acaba tirando a vida de muita gente incocente!); mas há também o sacrifíco do amor na obra, e é muito emocionante. Esse sim, vale a pena! Outro conceito bem presente na história é o chamado de volta à vida, a ressurreição, fazendo mesmo um paralelo com o livro do Evangelho de são João!  Este traço é uma espécie  de eco que vai estar muito presente em toda a narrativa.

 

Termino este artigo chamando a atenção aos inúmeros conflitos e sacrifícios atuais que acabam se tornando em vão, ou gerando ainda mais problemas. Hoje, presenciamos um confronto entre dois povos, entre uma fronteira sangrenta que nos causa dor e angústia: Israel e Palestina.  O amor sempre é o melhor caminho!  O chamada de volta à vida de Dickens, representado em Um Conto de Duas Cidades não poderia ser mais atual. Bendita literatura, que também cura, que pode ser um agente condutor para a melhoria de nossa saúde mental!

 

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