A ESCRITA NOS AJUDA A ORGANIZAR E ENTENDER NOSSOS PENSAMENTOS



É sempre bom registrar nossas ideias. Um dia, teremos outros “insights” que se conectarão com elas. Algo novo pode surgir. Não desperdice as suas. Guarde todas. Anote todas. Elas são tesouros.  Aliás, Você sabia que ideias escritas podem nos ajudar a expressar sentimentos e organizar a “bagunça interna”? Gabriel Gutierrez afirma que:

“[...] desde os primórdios o ser humano busca formas de materializar seus sentimentos. Os egípcios, por exemplo, criaram mais de 600 hieróglifos com diferentes objetivos, contar histórias era um deles. Da mesma forma, há relatos de círculos ritualísticos feitos por comunidades indígenas, nos quais cada integrante cantava seu nome, gerando um som harmônico.  E os homens das cavernas? Não eram eles que faziam pinturas rupestres nas paredes delas por acreditarem que tais desenhos os ajudavam na caça? Os alquimistas medievais foram mais longe ainda, mesmo que metafisicamente, tentaram construir a famosa pedra filosofal...”
Faz muito sentido, afinal, somos seres `linguajantes’. Existe uma característica natural do ser humano em expressar e materializar seus sentimentos. Continuamos nossa busca, a fim de encontrar formas diferentes de expressar o que criamos em  nossas mentes, é como se sempre estivéssemos criando algo internamente meio nebuloso que necessita alcançar a luz para ser visualizado. 

Pesquisas apontam que quando não organizamos nossos pensamentos, sofremos com vários problemas de deso_ rientação. E é justamente na escrita, na composição das muitas formas de Arte que conseguimos organizar nossos pensamentos e entendê-los. Melhor: a essência da Arte reside no fato de que uma mesma situação se aplica a milhares de pessoas. Pode ser que sua história venha a ser respeitada e compartilhada por muito mais pessoas do que você imagina. Afinal, Como a água, a escrita pode se adaptar a qualquer movimento...Como o ar, a escrita pode permear todas as emoções humanas...Como o fogo, a escrita transforma. Como a terra, a escrita é fértil.(Ana Cláudia Quintana arantes)

Sinceramente, acredito, conforme expressou Ana Holanda (2018), que o convívio com as palavras, entre leituras e processos criativos, pode nos ensinar muito sobre nós mes_ mos, sobre as vivências que compartilhamos. Nesse sentido, escrever é, também, conviver. É parar para observar o outro, enxergar a vida que há no outro. É essa vida que dá vigor às criações artísticas. Stephen King (2015) não exagerou, ao dizer que escrever é mágico, é a Água da Vida. A água é de graça. Então beba.

Porém, é muito importante entender que o fato de conhecer todas as técnicas não é o bastante para uma escrita fluida. Pelo menos não quando pensamos no outro ao escrever. Ou ainda quando temos a consciência de que nossa escrita não é um monólogo, é uma conversa com o leitor. Dominar as técnicas é só um dos aspectos da escrita. Mas tocar a alma humana é bem mais que isso. Porque nada substitui a essência e a sensibilidade. 

     
  A conexão acontece de alma para alma, nunca devemos nos esquecer disso! Aqui vale lembrar o que disse Carl Jung,  grande psiquiatra e psicoterapeuta suíço, fundador da psicologia analítica. Seu trabalho tem sido influente na psi_ quiatria, psicologia, ciência da religião, literatura e áreas afins.): Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.

Ana Holanda no livro Como se Encontrar na Escrita também defende uma escrita mais humanizada. Ela nos conduz a uma maravilhosa jornada sobre a descoberta da produção afetuosa. Segundo ela, cada um de nós deve encontrar sua própria voz e colocá-la no papel. Diz que:
 
 [...] um texto escrito de maneira visceral é capaz de transformar, mudar, aproximar, afetar. Na verdade, é o que para mim faz mais sentido. Caso contrário, vamos seguir escrevendo os mesmos textos de sempre, a partir do olhar e do ponto de vista de sempre. Vamos seguir fingindo que estamos conversando com o outro por meio das palavras, quando, na verdade, não estamos interagindo com ninguém a não ser com a gente mesmo. É uma conversa solitária, mas dá para mudar isso. (HOLANDA, 2018).

 Na verdade, o convívio com as palavras, entre pesquisas e processos criativos, pode nos ensinar muito sobre nós mesmos, sobre a vivência que compartilhamos. Contar história é um ato que passa pelo olhar coletivo. Cria espaços de convivência que podem nos aliviar o peso da solidão moderna. Sim, a escrita é, também, terapêutica.

 Ao contar histórias nós nos permitimos ir ao encontro do outro, abrimos o peito para saber de outras trajetórias. Esse despertar para a escrita afetuosa, cheia de encontros e histórias, nos faz acreditar um pouco mais na transformação dos dias. Ela está no dia a dia. Essa experiência de troca, de diálogo e de prazer com a escrita pode acontecer com qualquer pessoa. Na contramão do distanciamento do texto, a escrita criativa e afetuosa é uma ferramenta de conexão. 
   
 Stephen Koch também nos incentiva a acreditar em nossos sonhos e a usar a escrita como forma de materializá-los. À medida em que organizamos nossas ideias para redigi-las, também criamos as imagens dessa composição. 

 Essas imagens têm o poder de gerar em nós sentimentos de realização daquilo que ainda não existe, como se já existisse. Além do mais, um projeto pronto, uma ideia discorrida no papel, detalhada, tem mais chance de obter uma oportunidade. Vejamos: O poder de imaginar o não visto a partir do visto, de desco_ brir a implicação das coisas, de avaliar o todo a partir de um aspecto significativo. (...) essa constelação de dons pode ser considerada a própria definição da experiência, e ela acontece na cidade e no campo, em pessoas dos mais diversos graus de instrução. (KOCH, 2008).

 Que nunca percamos o poder de imaginar, de trazer à existência aquilo que estiver ao nosso alcance. Que jamais deixemos de acreditar nessa “constelação de dons e talentos” que habita em nós, nem deixemos de ver o quanto nossa experiência e nossa história de vida têm valor.

Sueli Lopes é Dra. Em Literatura; autora; escritora; colunista internacional; cronista; Embaoxadora da Paz; acadêmica vitalícia da FEBACLA (Federação Brasileira de Ciências, Letras e Artes); membra da AILB (Academia Internacional de Literatura Brasileira ,NY) e CEO do Grupo Internacional de Escritores Vozes da Diáspora (Londres)


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