ALECRIM DE OLIVEIRA, por Sueli Lopes



Meu pai gostava de plantas, mas nós só descobrimos isso em sua velhice. Não sei se foi por falta de atenção nossa, ou se ele tentava esconder, disfarçar, para não demonstrar nenhuma fragilidade aos filhos. Coisas de homem matuto, que nasceu no campo, cresceu na roça, e tem suas características masculinas muito bem determinadas. Ficar se envolvendo com “plantinhas” não faz parte delas. Eles que cuidem do gado, de arar a terra, do plantio em grande escala! 

          Porém ele, por trás daquela dureza em que a vida o levou, era doce, carinhoso, sensível. Só conseguiu demonstrar isso quando a idade avançou. Foi o suficiente para percebermos o quanto de amor ele tinha, e isso foi maravilhoso!

          Ele gostava de plantas, cuidava delas, montou seu canteiro em vasos adornados. Na cidade, depois de tantos anos, aquele apego se aflorou. No meio delas, está um pé de alecrim. Este tinha mais sua atenção, mais zelo, mais cuidado. Não sei o porquê. Ele molhava, podava, às vezes até conversava com aqueles galhos verdes. 

          Fazia questão de exibi-lo aos familiares, quando vinham de Minas a Goiânia. Aquela planta tem história, faz parte de nossa vida. Está num vaso bonito, escolhido por ele, no jardim da casa de minha mãe. Eu soube, há muito pouco tempo, que a “muda” veio lá da fazenda Ressaca, perto de Buriti Alegre-Go, e foi doada pelo nosso querido tio Braz, há quase vinte anos!

          Meu pai já não está. O pé de alecrim continua lindo, verde, exalando seu aroma. Olhar para ele, molhar, regar, cuidar, é como se nós mantivéssemos a presença do nosso amado velho ali. A planta é tão viva que nos consola, de alguma forma.

          Ao que tudo indica, vai ficar, de geração em geração. E sempre saberão quem foi o grande homem que cultivou o pé de alecrim da família Oliveira. De fato, como a terra, a escrita é fértil e nos permite eternizar memórias como esta. Ela nos dá a  chance de resgatar afetos, de expressar memórias com a gentileza que nos surpreende, pela revelação e beleza do momento. Bendita escrita que nos permite eternizar algo tão sublime!

Sueli Lopes é Dra em Literatura, autora, escritora, colunista internacional e CEO do Grupo Internacional de Escritores Vozes da Diáspra (Londres). Instagram: @escritorasuelilopes

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem