TRAVESSIA LITERÁRIA SOBRE O RIO TEJO, por Sueli Lopes

 


Caminhos ou trajetos sempre me encantam. De uma forma ou de outra, eu vou encontrar um jeito de enxergá-los à minha maneira. E isso inclui minha disposição em contemplar, apreciar, observar os detalhes, o que torna meus dias bem mais felizes. 

Sem falar que encontro histórias sempre, aquelas que fazem questão de se revelar a mim. Deve ser porque eu já abri o coração para senti-las, os olhos para enxergá-las e e as mãos para escrevê-las. Parece que as histórias têm preferência por pessoas que estão dispostas a contá-las. Parece não, segundo Stephen Koch, é “à medida que escrevemos uma narrativa, que ela vai se revelando.” Segundo ele, nenhuma delas nasce pronta.

Quando vivi em Portugal, eu morava ao sul do Rio Tejo e trabalhava em Lisboa. Pegava o barco em Barreiro até a Estação Terreiro do Paço. Detalhe: aquele transporte fluvial, além de lindo, é “batizado” com os nomes de alguns escritores portugueses. Eu fiz o trajeto sobre Fernando Pessoa, Almeida Garret, Camões e vários outros. Como minha primeira graduação foi Letras, os autores Portugueses  fazem parte de minha paixão por Literatura.

 Minha rotina matinal, meu trajeto rumo ao meu trabalho eram mágicos. O Rio Tejo, tão aclamado por Camões e por Fernando, tem ondas, como o mar. Ao sentar no andar de cima do barco, é possível sentir a profundeza daquelas águas (histórica e socialmente também!). E ele é mesmo lindo. O sol bate, fica meio prateado. 

E lá estava eu, trazendo à memória a valiosíssima Literatura Portugesa. No verão, bem de longe, já se vê os grandes Cruzeiros ancorados na Estação de Santa Apolônia. Eles vêm de todas as partes do mundo.  A vista de Lisboa daquele ângulo é um charme: as colinas, a arquitetura antiga, as casas em tons pasteis, e bem no alto, o Castelo de São Jorge. E os jacarandás floridos? Aquelas imensas árvores com flores roxas em contraste com as ruas de pedra são um cartão postal da capital portuguesa.

De verdade, eu me sent muito privilegiada por tamanha beleza a ser admirada, vivida, todos os dias. Entendi, com mais clareza, que é do ordinário que criamos o extraordinário. Foi ali, contemplando o Rio Tejo, que escrevi muitas crônicas, que agucei meu olhar para a “alma” dos lugares. As águas me lembram vida, criação, obras de Arte. Aqueles barcos com os nomes dos escritores, para mim, são uma expressão, uma analogia à “Água da Vida”, conforme expressa Stephen King: “escrever, como toda obra-prima, é água da vida. A água é de graça. Então beba.”

E eu bebia dela todos os dias, e fiz daquelas jornadas diárias momentos únicos, uma “travessia literária”, para nunca mais esquecer.

Sueli Lopes é Dra em Literatura, autora, escritora, colunista internacional e CEO do Grupo Internacional de Escritores Vozes da Diáspra (Londres). Instagram: @escritorasuelilopes

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