Mesmo na noite mais escura, existe uma luz que insiste. (Clarice Lispector)
À medida que nos despedimos de 2025, é quase impossível não refletirmos sobre os caminhos tortuosos que percorremos ao longo do ano. Este foi um período marcado por desafios que pareciam maiores do que nós, nos quais as sombras das guerras, dos deslocamentos forçados, das perdas coletivas e das tensões globais pairaram sobre nossas cabeças como nuvens densas que ameaçavam apagar o céu. Houve dias em que nos sentimos pequenos diante de notícias que cortavam a esperança, dias em que a dor do mundo parecia ecoar dentro de nós.
Assistimos a tragédias que ultrapassaram qualquer explicação simples: cidades inteiras silenciadas por conflitos armados, famílias separadas pela violência, vozes de crianças sussurrando medo onde deveria haver brincadeiras. Os noticiários, ao longo de 2025, pareciam carregar nas entrelinhas uma pergunta sufocada: como seguir adiante quando o mundo parece ruir?
E, no entanto, como sempre acontece com o espírito humano, e como a literatura tantas vezes nos ensinou, a resposta surgiu nos lugares menos prováveis.
Em meio ao caos, irromperam gestos silenciosos de coragem:
• Estranhos que ajudavam estranhos;
• Comunidades que dividiam o pouco que tinham;
• Jovens que saíam às ruas com cartazes de paz;
• Médicos que atravessavam fronteiras sem nunca perguntar a quem pertenceriam as vidas que salvariam.
Essas pequenas centelhas de bondade lembraram-nos de algo fundamental: a compaixão é teimosa, e a esperança tem raízes profundas demais para serem arrancadas, mesmo quando tudo parece perdido. E não é por acaso.
Pesquisas recentes nas áreas de psicologia social e neurociência confirmam que a cooperação, o cuidado e a empatia são mecanismos naturais que garantiram a sobrevivência da nossa espécie. Ou seja: a esperança não é ilusão; é estrutura biológica, cultural e espiritual.
Ao longo deste ano duro, descobrimos, muitas vezes de forma inesperada, que somos mais fortes do que acreditávamos. Reaprendemos a erguer pontes onde antes só víamos ruínas.
Criamos espaços de diálogo onde o medo queria construir muros.
Transformamos a fragilidade em ponto de encontro e, mesmo cansados, seguimos adiante, porque é isso o que a humanidade faz desde que aprendeu a caminhar.
Agora, quando nos aproximamos do fim de 2025, carregamos em nós não a negação do que vivemos, mas a maturidade que nasce das grandes provações. E é com essa maturidade que olhamos para o futuro.
Que o próximo ano seja tecido com os fios de que mais precisamos: paz, compaixão, prudência, escuta e coragem. Que possamos aprender com as lições deste tempo e nos comprometer, de forma íntima e coletiva , com a construção de um mundo no qual a dignidade humana seja o ponto de partida, não a meta distante.
Afinal, como tantas tradições espirituais e filosóficas ensinam, a paz não é algo que encontramos: é algo que praticamos. E, ao praticá-la, tornamo-nos nós mesmos pequenas lanternas na escuridão. Luzes que, somadas, desenham caminhos inteiros.
Que neste Natal possamos abrir espaço para o abraço, para o descanso, para a celebração silenciosa de ainda estarmos aqui. E que o Ano Novo nos convide a fazer diferença: em nosso lar, em nosso trabalho, nas nossas relações, no mundo.
Porque a esperança nunca nos abandonou. Talvez ficasse quieta, esperando.
Mas sempre esteve aqui e nós somos os artífices dela. Somos aqueles que plantam sementes de paz, que constroem pontes invisíveis, que seguram a mão uns dos outros na travessia.
A todos, um Natal de luz e um Ano Novo de possibilidades.
E que 2026 nos encontre preparados: não para o que virá, mas para continuarmos sendo, com coragem e ternura, os construtores da esperança.
.jpeg)
